O conhecimento é o caminho
Opinião
João Flávio Resende
Em tempos de tanta profusão de informação e de desinformação, torna-se fundamental falarmos de conhecimento. O bom e velho dicionário define conhecimento como “ato ou efeito de conhecer; ato de perceber ou compreender por meio da razão e/ou da experiência”. A ideia deste texto não é discutir academicamente ou cientificamente o conhecimento, mas sim falar sobre sua aplicação na vida prática e cotidiana e sobre como ele interfere no nosso dia-a-dia.
Vamos separar informação e conhecimento. Informação é um conjunto de dados. Conhecimento é a forma como usamos esses dados e o que aprendemos com eles. O conhecimento não é uma coisa exclusiva de estudiosos: todos têm sua carga de conhecimento, do médico ao varredor de rua, do filósofo ao pedreiro, da criança ao idoso. E a vida em sociedade só ganha sentido se esses vários recortes do conhecimento forem colocados a serviço de todos. Conhecimento abre portas para ampliação de fronteiras, para contribuir mais e melhor com a sociedade.
Conhecer é se informar, interpretar, agir, disseminar o que edifica. Conhecimento é uma das poucas coisas que, se dividida, ao invés de diminuir, se multiplica. Quando compartilho com você o meu saber, continuo sendo dono dele e dou-o a você, que pode igualmente compartilhar com outros. É algo maravilhoso de se pensar – e de fazer.
Só se age sobre uma realidade depois de conhecê-la bem, estudá-la, compreendê-la, dominá-la. Por isso o estudo, em suas mais variadas áreas, é tão importante. É necessário estudar sempre, não apenas na escola formal, mas procurar aprender o máximo. É isso que as mentes livres fazem: se ampliam cada vez mais, até não poderem mais ser prisioneiras de nada nem de ninguém.
Chega-se ao conhecimento por meio de questionamentos, não aceitar as ditas verdades como absolutas antes de checar, conferir, verificar. O questionamento é a base do saber, do aprender. Precisamos ter cuidado com a chamada verossimilhança, ou seja, com aquilo que é verossímil, que parece verdadeiro. Em campos do conhecimento intrincados e complexos, como a religião e a política (assunto de outro texto meu, publicado neste espaço), é preciso ter mais cuidado ainda com o que se lê/vê/ouve. Estes dois campos são os instrumentos mais usados de forma perversa e calculada por quem busca dominar pessoas e grupos e promover suas formas questionáveis de pensar, agir e viver. Não raro, são propositadamente misturados e distorcidos, com o objetivo de dividir, promover o caos e, em cima disso, pessoas inescrupulosas disseminam valores distorcidos e perigosos, buscando subjugar e dominar, num misto de poder e vaidade.
Conhecimento é ferramenta. E, como toda ferramenta, se mal usado ou usado indevidamente, pode causar estragos irreparáveis. Ao contrário, quando usado para promover o bem comum, é instrumento poderosíssimo.
Falando de conhecimento, gosto de separar senso comum e bom senso. Dou aqui um singelo exemplo. Para muitos (senso comum), um carro sinalizar que vai mudar de faixa e cruzar na frente do seu ou andar em velocidade maior que a sua é uma afronta. Daí, você acelera, não o deixa passar, anda mais rápido que ele – para nada. Se, do contrário, você reduz, dá espaço, fica na sua, mantém o seu ritmo (bom senso), todos seguem tranquilamente. Conhecimento também torna as pessoas mais solidárias, empáticas.
Há áreas do conhecimento mais valorizadas e menos valorizadas. Porém, a pandemia de Covid-19 tem mostrado como são considerados essenciais profissionais de algumas áreas, independentemente da complexidade do trabalho. Garis, motoboys, trabalhadores da indústria, do comércio e motoristas, dentre outros, ganharam uma importância imensa, enquanto gente “mais estudada” ficava confinada em casa. Foram os menos qualificados que fizeram e fazem a diferença na pandemia. Sem eles, estaríamos todos perdidos.
Todos os saberes devem contribuir para o funcionamento equilibrado da sociedade. Afinal, se todos tivéssemos conhecimento sobre exatamente as mesmas coisas, não conseguiríamos sequer sobreviver, já que, para a existência da espécie humana, precisamos de gente que domine áreas do saber completamente diferentes.
A desinformação, as mentiras, as distorções destroem sempre. Mentir não é exercer liberdade de expressão, ao contrário do que muitos pregam hoje em dia. Inventar coisas falsas e disseminar como se fosse informação deveria ser considerado crime.
Conhecimento, ao contrário, constrói, faz evoluir, encoraja, acalma, enche de energia, traz paz, liberta. É o caminho.