O que a Cop-26 tem a ver com a sua vida?

Opinião

João Flávio Resende

João Flávio Resende - Colunista Folha de Brumadinho

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi realizada de 1º a 12 de novembro em Glasgow, capital da Escócia. Era para ter acontecido no ano passado, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19. Com a participação de quase 200 países, a Cop-26 dominou boa parte do noticiário nos últimos dias.

Não é de hoje que as ações humanas têm alterado o clima no mundo todo. O impacto mais sentido no meio ambiente, causado pelo excesso de poluentes jogados todos os dias na atmosfera, é o aquecimento global, com graves consequências.

Os mais velhos vão se lembrar de que, não faz muito tempo, as estações do ano, os períodos de seca, os chuvosos, os frios e os quentes eram bem definidos. Hoje não é mais assim. O progressivo aquecimento do planeta, causado por gases que provocam o chamado efeito estufa, eleva o nível do mar por causa do derretimento de geleiras, provoca secas e enchentes, períodos de intenso calor em regiões até pouco tempo amenas, dentre outras calamidades. Cada grau de aquecimento médio representa uma catástrofe. E a expectativa é de que o planeta aqueça cerca de 3 graus até o fim do século, podendo desaparecer ilhas e cidades inteiras debaixo do mar, para citar apenas um efeito.

Os mais velhos também se lembrarão da Eco-92, conferência do meio ambiente realizada no Rio de Janeiro há 29 anos. Todavia, o que foi feito de lá para cá para conter o aquecimento global e preservar os recursos naturais e o meio ambiente? Bem menos do que deveria.

Com a grande concentração de gases poluentes na atmosfera, temos o chamado efeito estufa: a camada de poluição “segura” o calor próximo à superfície da Terra, gerando o desarranjo do clima. Várias atividades humanas são responsáveis pelas emissões de poluentes: veículos, indústria, atividade agropecuária, desmatamento, dentre outras.

Embora os Estados Unidos e a China sejam os países que mais poluem, o Brasil tem papel fundamental na preservação ou na destruição do meio ambiente. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, o Brasil detém a maior quantidade de água potável do planeta (cerca de 12% da reserva mundial) e somos grandes produtores agrícolas. Com tudo isso, era esperado que o país fosse um dos protagonistas da Cop-26, mas não foi isso que aconteceu. O presidente Jair Bolsonaro nem se preocupou em estar em Glasgow. Gravou um vídeo de menos de três minutos para dizer que o Brasil seria “parte da solução, e não do problema”.

Não é que os dados mostram. O desmatamento e os incêndios na Amazônia e no Pantanal durante o seu governo são os piores nos últimos 15 anos. E o Brasil somente assinou documentos se comprometendo com a redução de emissões debaixo de muita pressão, com os principais países importadores de produtos brasileiros condicionando as parcerias comerciais ao compromisso com o meio ambiente por parte do governo brasileiro.

Foram registradas várias manifestações e protestos durante a Cop-26, que pediam medidas efetivas contra o aquecimento global. Reduzir ou mesmo parar de emitir gases significa mudar matrizes energéticas, o que demanda tempo, dinheiro e pesquisa. E as empresas, de uma forma geral, não querem reduzir seus lucros em prol de um ambiente mais preservado. Este é um dos principais entraves quando se fala em combater o aquecimento global. O lucro em detrimento da vida.

O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, documento divulgado durante a conferência, afirma que é necessária a redução de 55% de emissões de gases que causam o efeito estufa até 2030. É uma meta ambiciosa, mas fundamental. A União Europeia, grupo de países da chamada zona do euro, pretende encerrar a produção de veículos a combustão até 2035, o que significa uma grande mudança de matriz energética dos veículos, principalmente em direção à eletricidade.

Já o relatório final da Cop-26 ficou aquém do que ONGs e defensores do meio ambiente esperavam. Não há compromisso efetivo de eliminar o uso de carvão mineral, um dos combustíveis mais poluentes e não foi cumprido o compromisso dos países ricos de financiar um fundo de US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para apoiar os países mais pobres no enfrentamento das mudanças climáticas, para ficar em apenas dois exemplos. É verdade que houve avanços, como a não compra de soja cultivada em áreas desmatadas e o compromisso de cerca de 450 instituições financeiras em apoiar a tecnologia “limpa”.

Então, o que isso tudo tem a ver conosco? Preservação do meio ambiente não é coisa de gente chata. É essencial para manutenção da vida. Somente prestamos atenção a isso quando há alguma catástrofe climática, ou então quando falta algum recurso natural, como água, por exemplo. E enquanto as nações procuram formular grandes acordos a respeito, cada um de nós, com pequenas ações, pode contribuir para frear esse quadro cada vez mais preocupante. Usar o carro o mínimo possível, dar preferência a deslocamentos não poluentes, separar o lixo, consumir menos, usar água e eletricidade com moderação, instalar painéis solares em casa quando possível, ensinar tudo isso aos nossos filhos desde cedo… São algumas das ações que estão ao nosso alcance. A vida agradece.

(Fontes: UOL, Folha de S. Paulo, Estadão, BBC Brasil, G1)

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