Uma visão pessoal sobre Brumadinho aos 83 anos de emancipação
Por João Flávio Resende
Muitos já publicaram textos, vídeos, fotografias sobre os 83 anos de Brumadinho. Então, este texto poderia parecer redundante, sobretudo nestes tempos de enorme facilidade em produzir e disseminar conteúdo. Para sair um pouco do lugar-comum, escrevo aqui a minha percepção pessoal sobre a terrinha (chamo-a assim com muito carinho), mas, claro, fazendo algumas amarras com a história do município.
Pouca gente sabe, mas eu não nasci em Brumadinho. Morei na terrinha entre 1989 e 2005, mas tenho relação com a cidade desde antes do meu nascimento. Meu pai, nascido em Crucilândia, e minha mãe, natural de Igarapé, se conheceram em Brumadinho, namoraram, casaram na Matriz de São Sebastião, igreja onde fui batizado mesmo tendo nascido em Belo Horizonte. Passei minhas primeiras semanas de vida em Brumadinho. Vinha a Brumas (outra forma de me referir a Brumadinho) praticamente todos os meses, até me mudar para Uberaba, onde eu e minha família moramos de 1980 a 1989, quando viemos para a terrinha. Fui me interessando pelas pessoas, pelos lugares, pelas histórias. Em Brumadinho, vivi dos 17 aos 33 anos, me interessei pela política (essa história muitos conhecem), me relacionei com gente de todas as classes sociais, de todos os credos, de todas as convicções político-ideológicas, sentei-me à mesa com ex-governador no Inhotim, com promotor, com juiz, sentei-me no degrau do terreiro de casas do interior pra comer frango com quiabo com o prato na mão, conheci gente que passava fome, conheci gente endinheirada, tive contato com gente de caráter ilibado e com outros com absoluta falta dele.
Brumadinho foi a minha grande escola de vida. Foi onde me interessei pela sala de aula (minha grande paixão, e só não mergulhei no caminho de professor por causa da desvalorização da profissão), onde minha história levou-me a ganhar meus maiores tesouros (meus três filhos), onde acertei e errei, fiz projetos (a maioria não-realizados, mas fiz)… Permaneço no município como eleitor e cidadão, meio fora das questões locais, mas de vez em quando dou as caras, participo de alguma coisa. Minha relação hoje com a cidade é quase totalmente familiar, por causa dos meus pais, da minha irmã, de tios e primos.
Nestes 32 anos de convivência direta com os brumadinhenses, li e ouvi muitas histórias. Soube que a estação ferroviária foi inaugurada em 1917, que era pro Brumado ser a sede do município e, como não foi escolhido, a população local, que tem forte identidade territorial (falar “eu sou do Brumado” tem um peso enorme), ainda tem meio que uma mágoa disso, que a cidade cresceu em torno da estrada de ferro, do rio Paraopeba e da estrada para São Paulo (não existia a BR 381 e a “estrada de automóvel”, hoje rua Presidente Vargas, era o caminho para a capital paulista)… Fui testemunha e participante do surgimento de uma das rádios da cidade, ajudei a fundar um jornal, colaborei com outro e hoje escrevo aqui para a Folha de Brumadinho.
Nestas mais de três décadas, vi empresas nascerem e morrerem, e outras tantas prosperarem, vi gente nascer, gente crescer, gente morrer, vi prefeitos serem cassados, sorri, chorei, me decepcionei, me realizei.
Vejo Brumadinho como um município extremamente promissor, apesar do crescimento sem planejamento, dos sucessivos problemas da política local e de todo o contexto pós-rompimento da barragem da Vale. É uma terra diferente de todas as outras da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que ainda conserva um ar de cidade do interior, com uma vasta zona rural, que os nomes/apelidos de pessoas conhecidas são associados aos pais ou familiares, à empresa onde atuam ou à região de origem.
Às vezes perco a esperança de dias melhores para a nossa terra, às vezes a mesma esperança se renova. É assim mesmo, como tudo na vida. E Brumadinho segue firme, apesar dos pesares, como lugar acolhedor, com gente de todas as bandas, de todos os sotaques, mas todos buscando ser felizes.
É isso que desejo para Brumas: felicidade, prosperidade, qualidade de vida, planejamento, desenvolvimento responsável, oportunidades para todos. Feliz 83 anos!