Visibilidade Trans e a importância do respeito

O Brasil responde, sozinho, por 29% dos assassinatos de pessoas trans no mundo

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Artigo

Por Ângela Mathylde  Soares – PHD em neurociência, psicanalista e psicopedagoga

O Brasil registrou cerca de 118 mortes violentas de pessoas trans e travestis no ano passado, conforme dados do “Dossiê: Registro Nacional de Assassinatos e Violações de Direitos Humanos das Pessoas Trans no Brasil em 2022”, levantamento feito pela Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (Rede Trans). A 7ª edição desse relatório aponta cem casos de homicídios entre brasileiros e, claro, os números são subnotificados e é fundamental uma ampla discussão sobre o tema nesta semana de Visibilidade Trans. 

Um absurdo e um fato alarmante no Brasil é que, sozinho, responde por 29% dos assassinatos de pessoas trans no mundo. O Ceará foi o estado que mais apresentou  homicídios trans com 11 ocorrências, seguido de Pernambuco (nove casos). Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais aparecem empatados em terceiro lugar, com sete registros cada. 

A semana da Visibilidade Trans no Brasil é uma oportunidade para promover diversas reflexões sobre a cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não-binárias (que não se reconhecem nem como homens nem como mulheres).  A data do dia 29 de janeiro foi escolhida, devido ao ocorrido em 29 de janeiro de 2004, quando em Brasília, foi organizado um ato  nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. O ato de 2004 foi um marco na  na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos.

A verdade é que a evolução social apresenta avanços, ainda pequenos, em relação às pessoas trans, assim como todas aquelas que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+, contudo, a minoria está se mostrando e conquistando mais espaço. Antes, a homossexualidade era considerada uma doença e, hoje, já  não é mais. Então, por isso, a questão da liberdade de expressão expandiu e as pessoas estão se mostrando e se empoderando com suas histórias.

A política é mais em exemplo com a eleição da primeira deputada federal trans do Brasil, a mineira Duda Salabert. Ela é  professora de literatura e ambientalista e  teve mais de 200 mil votos. A história de Duda está enraizada de sentimentos e vitórias, ou seja, ela conta o que todos passaram e, nesse “todo”, as pessoas se identificam e se tornam empoderadas também. A educadora é uma mentora, agrega valor aos LGBTs e representa uma oportunidade, apesar das dificuldades e do sofrimento que enfrentam diariamente.

Além do convívio em sociedade, uma das maiores dificuldades que trans e travestis passam é quando se descobrem e vão se “ assumir “ para as famílias. Nesse momento, é importante que, mesmo sem entender, os pais acolham e aceitem os filhos. Eles já serão julgados fora de casa. Então, é imprescindível terem segurança e liberdade em casa para serem quem são.

Já entre as famílias mais tradicionais e conservadoras, é necessário uma reconstrução, de valores, de diálogos e de ressignificação. Reconstruir é sempre muito difícil. A recomendação é que os pais pesquisem e estudem para entender que não se trata de doença. A pessoa já nasce  e se identifica com o gênero diferente de seu físico. Assim, mais informações são necessárias para famílias e escolas, visando contribuir com uma sociedade  mais flexível e abrangente. Afinal, é possível, sim, construir um mundo melhor para pessoas trans respeitadas e entendidas pela forma que são.

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