Neste próximo sábado, 25, o traumático rompimento da barragem da Vale em Brumadinho completa seis anos. Para homenagear e honrar a memória das 272 vítimas da tragédia-crime, a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM) dá sequência a uma série de ações na cidade mineira. As atividades incluem um seminário de debates, que acontece na quinta-feira, dia 23 de janeiro; uma carreta pelas ruas, com apresentação musical na chegada, na sexta-feira, dia 24; o tradicional ato de resistência realizado anualmente e a aguardada inauguração do Memorial Brumadinho, no sábado, dia 25. Todas as ações deste ano acontecem em Brumadinho, epicentro da tragédia-crime, e são gratuitas e abertas ao público em geral, com exceção da inauguração do Memorial Brumadinho.
Para 2025, o lema adotado pela AVABRUM é “Memória Irreparável – Uma Tragédia que Rompeu Histórias Não Será Esquecida”. Integrante da diretoria da Associação, Kenya Paiva Lamounier, que perdeu o marido Adriano Aguiar Lamounier, avalia que a mensagem é uma forma de criticar falsas reparações, reforçando a ideia de que as vidas são irrecuperáveis. “Tentamos mostrar que as pessoas e os momentos são insubstituíveis. Estamos cansados e até ofendidos com o termo ‘reparação’. Como reparar uma morte? Qual o preço de uma vida? Para nós, familiares, o que ficou são histórias de vida, são as vivências e convivências daqueles que a Vale matou. As memórias são nossas relíquias. Elas não podem ser precificadas, não podem ser reparadas”, avalia Kenya.
Presidente da AVABRUM, Nayara Porto, que também perdeu o marido Everton Lopes Ferreira, ressalta que a semana de homenagens é um alerta à sociedade para a não repetição da tragédia-crime. As ações, portanto, lembram a população que o rompimento da Mina Córrego do Feijão “não foi um acidente, mas um ato de irresponsabilidade que transformou para sempre a vida de centenas de famílias”. “A AVABRUM é sinônimo de perseverança, luta e assim serão os nossos dias até a gente ver a justiça acontecer. E, depois disso, continuaremos lutando para preservar a memória dos nossos e para que crimes como esse jamais aconteçam novamente”, diz Nayara.
Atividades
O primeiro evento da semana é o seminário “Memórias do Irreparável: 6 Anos do Rompimento”, com a presença de familiares das vítimas e outras pessoas envolvidas no apoio aos atingidos ao longo de seis anos. Entre os convidados, estão jornalistas como Daniela Arbex, autora do livro “Arrastados: Os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil”, e Murilo Rocha, autor do livro “Brumadinho: a engenharia de um crime”. O evento acontece nesta quinta-feira, 23, no Teatro Municipal de Brumadinho (Quadra de Esportes), entre 8h e 17h.
“Este ano a memória será o tema central do seminário. Vamos fazer uma caminhada pelas vivências desse crime e de outros, trazendo relatos e histórias nas quais a realidade seja realmente estampada, e não distorcida ou calada. Vemos no nosso país que as grandes tragédias e crimes muitas vezes viram banalidades. Muitas vezes são contadas por aqueles que tentam fazer apagamento dos fatos. Não queremos isso para Brumadinho”, diz Kenya.
Na sexta-feira, 24, véspera do grande ato, os familiares das vítimas lideram a conhecida “Carreata da Justiça”, ação que acontece desde o primeiro ano da tragédia-crime, como forma de cobrar respostas efetivas do poder público àqueles que perderam seus entes queridos. Os participantes concentram-se às 17h no Cemitério Parque das Rosas, onde a maioria das vítimas está enterrada, e de lá seguem em carreata. A carreata termina na Praça Saudade das Joias, onde será realizada uma noite de Memória e Louvor, com uma apresentação musical da Orquestra Filarmônica Ramacrisna.
“Por cinco anos fizemos a ‘Carreata da Justiça’ e, desta vez, não será diferente. Até porque são seis anos sem Justiça. A intenção é chamar atenção do Judiciário para eles decidirem se estão do lado dos réus ou das vítimas”, afirma Nayara. “Depois, fazemos o grande ato, no dia 25, que vem para fechar toda a semana de eventos em prol do não esquecimento. Frisando, mais uma vez, que não há reparação para a vida, para os sonhos, para os projetos e para tantas outras coisas assassinadas no dia 25 de janeiro de 2019”.
Durante o ato, que começa às 11h, na Praça Saudade das Joias, centenas de participantes soltarão ao céu 2.192 balões amarelos, que simbolizam os dias exatos sem respostas desde a tragédia-crime, e três balões brancos, que representam as três vítimas que até hoje não foram localizadas. Todos os balões são biodegradáveis e têm sementes de girassol dentro. Além do tradicional ato de resistência, neste ano haverá ainda a aguardada inauguração do Memorial Brumadinho, às 16h, em evento fechado para familiares, autoridades e convidados.
Foto: Acervo Avabrum