Coleta seletiva: um desafio contemporâneo

Confira a coluna especial do jornalista Valdir de Castro

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Por Valdir de Castro Oliveira

Se perguntarmos às pessoas sobre a importância de termos serviços regulares de coleta seletiva de lixo e se esta atividade seria relevante para o nosso futuro, a maioria absoluta responderia que sim, como mostrou o Instituto de Pesquisa Datafolha, ligado ao jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de 23 de junho de 2024, que investigou a percepção da população e suas práticas cotidianas de separação de resíduos. 

Apesar destas respostas positivas, a pesquisa constatou que 29% dos brasileiros não separa os materiais recicláveis dos demais resíduos produzidos em casa. Mesmo nos municípios que contam com serviços de coleta seletiva de lixo, 33% dos entrevistados declararam não separar resíduos recicláveis.  

Lixo reciclável misturado com lixo comum em Brumadinho 

Em função disso, uma quantidade incalculável de resíduos vai parar em nossos aterros sanitários e, mesmo em cidades que têm serviços estruturados de coleta seletiva, a capacidade não é utilizada em sua totalidade, porque não recebem resíduos suficientes.  

Excetuando algumas formas de lixo reciclável que tem maior valor neste mercado, como as latinhas de alumínio ou o cobre (o que estimula o roubo de fiações elétricas), a maior parte do lixo reciclável tem um custo elevado para ser reciclado, o que desestimula este tipo de atividade. E existem também aquelas formas de lixo que não poderiam ir para os aterros sanitários, como as pilhas e baterias, mas que, infelizmente, para lá vão, muitas vezes por falta de informação dos seus usuários ou por falta de uma rede estruturada para coleta deste tipo de material, que deveria ser bancada pelos fabricantes.  

Infelizmente, as nossas redes industriais e comerciais têm uma capacidade voraz para produzir lixo de todo tipo, como sacolas plásticas, embalagens de papel ou papelão, garrafas, papéis, entre outros itens que não são biodegradáveis. Eles infestam as ruas, os lotes vagos, calçadas e lixões, comprometendo o meio ambiente.     

No caso dos plásticos, que não são biodegradáveis, é triste também observar como eles são descartados em profusão nos rios, lagos e mares, onde muito animais, como as baleias e os golfinhos, morrem ao tentar ingerir estes objetos, confundindo-os com algum tipo de alimento.        

Aqui em Brumadinho já tivemos um serviço eficaz e regular de coleta seletiva, criado durante o governo Gibiu, com a ajuda do professor aposentado da UFMG e ambientalista Renato Quintino (in memoriam), quando foi secretário municipal de Meio Ambiente e um dos criadores do Partido Verde no município. Ele estimulou e ajudou a criar a Associação dos Catadores do Vale do Paraopeba (Ascavap), que vinha prestando relevantes serviços ao município e simultaneamente oferecendo oportunidade de renda e emprego a diversas pessoas, principalmente aquelas com transtornos mentais. 

Mas de uns tempos para cá este serviço se tornou irregular e perdeu a sua visibilidade na cidade, afetando a qualidade da coleta seletiva que vinha sendo feita. 

São várias as razões para isto acontecer, a começar pelo fato de que o sucesso deste tipo de projeto depende muito: a)  da regularidade deste tipo de coleta; b) da colaboração e assistência profissional e regular da Prefeitura para manter e ampliar a infraestrutura deste tipo de serviços; c) dos cidadãos e dos comerciantes em juntar semanalmente o lixo reciclável para ser entregue ou recolhido pelos serviços de coleta. Infelizmente isso não vem ocorrendo de forma regular na cidade.

Lixo comum misturado com lixo reciclável em uma das ruas da cidade

Estas situações fazem com que muitos moradores e comerciantes misturem o lixo comum com o lixo reciclável, que acaba sendo recolhido pelo caminhão de lixo para ser depositado no aterro sanitário. Ademais, nem todas as ruas ou bairros da cidade têm serviço regular de coleta do lixo reciclável e tampouco há uma divulgação sistemática informando para onde esse tipo de material deve ser levado  

Em minha rua, localizada em um bairro de classe média, temos a coleta seletiva todas as quartas-feiras, mas poucos domicílios separam ou disponibilizam o lixo reciclável para esta coleta. Além disso, uma caminhada rápida pelo centro da nossa cidade nos mostra também como muitos comerciantes ignoram a coleta seletiva e o que ela representa, tanto para o meio ambiente quanto para a cidade. 

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