Opinião
Por João Flávio Resende
Estando efetivamente iniciada a campanha eleitoral há cerca de duas semanas, começou a temporada de caça aos votos. Milhares de candidatos em todo o Brasil estão disputando a nossa preferência. Não é fácil fazer esta escolha no meio de tanta informação e desinformação, sobretudo em tempos de fake news, ou de mentiras, como escrevi no artigo anterior. Não tenho aqui a pretensão de fazer o guia perfeito para escolher em quem votar, mas acredito que o que está escrito abaixo pode ajudar o (e)leitor a, pelo menos, diminuir muito as chances de se arrepender depois do voto.
No meio de vários candidatos falando praticamente as mesmas coisas, considero importante prestar atenção em alguns detalhes. Não importa para qual cargo, se o candidato que pede o seu voto já ocupa ou já ocupou o cargo, é mais fácil: basta observar o que fez, ver qual a folha de serviços prestados à população, sobretudo em favor dos mais pobres e necessitados. E não se trata aqui apenas de assistência, doações, auxílios, mas também de políticas públicas voltadas sobretudo para a enorme parcela da população que depende direta ou indiretamente dos serviços públicos, como escolas públicas, como o SUS, como políticas de habitação popular e acesso ao crédito para a moradia própria, programas que façam a economia funcionar bem e gerem emprego e renda, por exemplo. Aí a eleição passa a ter o que podemos chamar de “caráter plebiscitário”: se o político que está no cargo e quer continuar fez o que deveria ser feito, vale a pena votar nele. Do contrário, vamos buscar outras opções.
A análise da folha de serviços prestados à sociedade vale também para pessoas que querem um cargo eletivo pela primeira vez ou pretendem disputar a eleição para um cargo diferente do que já ocuparam. Quem são? O que fizeram pela coletividade? Como se posicionam diante dos grandes temas de interesse público? Qual é o grau de respeito que têm para com as pessoas em geral, sobretudo as chamadas minorias?
O partido ao qual o candidato está filiado também pode e deve ser levado em consideração na hora do voto. O problema é que, dos 33 partidos legalmente constituídos no Brasil, pouquíssimos têm um programa, uma linha política bem definida. A maioria serve para acomodar pessoas sem nenhuma linha de pensamento e ação, servindo apenas de “legendas de aluguel”, já que, para disputar cargo eletivo, a filiação partidária é obrigatória. Neste caso, vale a pena procurar candidatos que estejam filiados a partidos com linha de atuação mais clara e mais conhecida. Assim, fica mais fácil acompanharmos o mandato dos que foram eleitos, e estes não ficam fazendo as coisas que derem na cabeça, pelo contrário, precisam minimamente seguir as orientações partidárias. Isto é muito comum em democracias fortes, como por exemplo nos países da Europa Ocidental. Lá, os partidos têm uma força e uma projeção diante da população infinitamente maior do que os partidos brasileiros. E o resultado é a formação de grandes acordos para os governos destes países funcionarem direito. E a população cobra mesmo. Quem nunca viu os grandes protestos, por exemplo, na Alemanha e na França?
Hoje, não precisamos ficar restritos ao rádio e à TV para buscar informações. Temos a internet. Entretanto, é preciso tomar muito cuidado, já que há muito lixo e muita mentira na rede. Buscar sites confiáveis para ter informações sobre os candidatos e seus planos, cruzar informações, trocar ideia com amigos de confiança e parentes, ou seja, falar sobre política. Como já escrevi em outro artigo, política é assunto que se discute, sim (e não apenas em época de eleição, porque a eleição passa e os eleitos seguem nos cargos por quatro anos).
Precisamos tomar cuidado sobretudo com candidatos completamente desconhecidos. Não dá pra ir votando em quem tem a cara bonitinha, em quem fala bem, em quem é perito em ficar soltando frases de efeito. Afinal, é o futuro da gente e dos nossos filhos que está em jogo. E, neste cenário, ter um mínimo de informações verdadeiras sobre quem vai levar o nosso voto é essencial. Votar com a razão.
Preste atenção em quem tem propostas reais e executáveis. Não adianta prometer mundos e fundos e não conseguir cumprir depois. Numa democracia jovem e frágil como a brasileira, somos facilmente iludidos ao longo de décadas. Precisamos quebrar este ciclo e escolher agora de forma diferente da que escolhemos no passado. Afinal, os políticos só chegam lá por meio do nosso voto. Então, essa escolha não pode ser de qualquer jeito.
Por fim, veja a propaganda, leia informações confiáveis, delete os videozinhos de zap (a maioria desinforma), preste atenção ao que o candidato fez, ao que faz e ao que pretende fazer. E, depois de eleito, cobre sem dó. Somos nós que escolhemos, somos nós que pagamos, é pra nós que eles trabalham.