Indignação. Este é o sentimento de muitos moradores e paroquianos do Distrito de Piedade do Paraopeba e região. Há mais de 10 anos eles lutam pela restauração da igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade. O projeto foi elaborado entre 2013 e 2014, pela Escola de Arquitetura da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, que prevê a restauração completa do templo, desde sua estrutura física até a recuperação dos elementos artísticos e sacros.
Ao longo destes últimos anos, várias manifestações, denúncias no Ministério Público, e cobranças às autoridades foram feitas com o objetivo de restaurar a igreja de mais de 300 anos. Apesar de iniciada em 2019, as obras foram paralisadas há mais de um ano. Como forma de protesto, os fiéis organizaram mais uma vez, um ‘Abraço Simbólico’, no entorno da igreja Matriz Tricentenária, para chamar a atenção dos órgãos públicos, Arquidiocese de Belo Horizonte, além da Justiça e cobram a finalização das obras de restauração do templo.
O ato aconteceu nesse domingo, 28, durante as celebrações de Pentecostes da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade. Uma missa foi celebrada dentro da matriz, em meio a andaimes, peças dos altares, elementos artísticos e sacros desmontados, além de muitos materiais de restos da obra e entulho. O estado de abandono do local mostra outros problemas na obra, como por exemplo, infiltrações no teto da igreja, onde já houve intervenções.
De acordo com a própria prefeitura de Brumadinho, já foram gastos aproximadamente 3,5 milhões de reais com a restauração. Parte dos recursos vieram do Fundo de Patrimônio, e outros valores das mineradoras Vallourec e Vale. A prefeitura só não explicou como e quem está gerenciando estes recursos. Mas, uma placa colocada em frente à igreja, aponta que uma fração deste dinheiro foi repassado à Associação Ama Aldeia de Casa Branca. A empresa contratada para a reforma é a A3 Atelier de Arte Aplicada Ltda, que participou das etapas até o momento.
Assim que soube da organização do manifesto, a prefeitura chegou a gravar um vídeo na última sexta-feira, tentando justificar a paralisação da obra. Segundo a administração municipal, a culpa pelo atraso na reforma é do Ministério da Cultura. Mas, a postagem causou indignação e revolta aos moradores, que contestam a versão dada pelo Executivo e inclusive a fala do Pároco Gustavo Tadeu, que disse na entrevista que está tudo maravilhoso, o que segundo a própria população, não condiz com a realidade.
Ontem, durante o ato, uma Comissão formada pelos fiéis foi criada para acompanhar de perto o projeto e cobrar explicações das autoridades e da própria Arquidiocese, responsável pelo templo. Um ofício foi elaborado e colhidas assinaturas, que serão encaminhadas esta semana ao Ministério Público, pedindo uma investigação e o detalhamento dos gastos com a obra até o momento. A prefeitura não informou qual o valor seria necessário para o fim das obras.
O orçamento da prefeitura de Brumadinho saltou de uma média de 180 milhões de reais/ano, em 2018, antes da tragédia da Vale, para 520 milhões de reais em 2023, além de mais 232 milhões de reais provenientes do acordo entre Vale e Estado, destinados especificamente para a saúde.