O Instituto Inhotim recebe, a partir deste sábado, 16 de outubro, a exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança. A iniciativa reúne obras de 73 mulheres de Brumadinho que encontraram no bordado e na relação com outras mulheres caminhos para transformações individuais e coletivas. As artistas bordadeiras são alunas do projeto Semeando Esperança, iniciativa da Fundação Vale e do Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont (ICAD) que, desde 2019, auxilia moradores locais, amigos e familiares de vítimas do rompimento da barragem B1 a ressignificarem sua dor por meio de conversas e técnicas de bordado livre.
Com peças produzidas por alunas das três turmas do projeto, a exposição é composta por 16 painéis, 44 mandalas e 18 peças com formatos variados. Os painéis, bordados coletivamente em vivências psicopedagógicas, são relatos, traduzidos em linha e agulha, sobre suas trajetórias de vida, os territórios onde habitam e os pontos que as unem. Eles foram bordados sob o desenho de Demóstenes Vargas, artista do ICAD, e expressam emoções e histórias entrelaçados por diversas mãos.
Já as mandalas, produzidas individualmente pelas artistas, traduzem memórias, sentimentos e lembranças de cada uma delas. A artista bordadeira Anna Cesária dos Santos, que acaba de concluir a sua, conta que o processo trouxe autoconhecimento. “Poder retornar à minha infância por meio do bordado foi maravilhoso. Quero bordar para o resto da minha vida”, afirma. Ela se diz privilegiada com a oportunidade de participar da exposição. “É muito especial imaginar que pessoas do mundo inteiro verão nosso trabalho”.
Para Flávia Constant, Diretora Executiva da Fundação Vale, “mais que uma mostra, este conjunto de peças cumpre a função da arte de contribuir para a tradução do sensível. Esperamos que, através dela, novos encontros e diálogos possam ocorrer, fortalecendo laços e aprendizados”.
Segundo o diretor-presidente do Inhotim, Antonio Grassi, “o relacionamento com a comunidade é um dos focos das ações socioeducativas do Instituto Inhotim, desdobradas por meio de iniciativas que visam o acesso ao museu junto aos moradores da cidade, atividades com escolas da região, além de diversos projetos sociais para o público de todas as idades do local. E é neste contexto que surge nossa parceria com a Fundação Vale para receber a exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança, no Centro de Educação e Cultura Burle Max, em Inhotim”, afirma.
A exposição Histórias do Vivido – Sementes da Esperança pode ser conferida até o dia 19 de dezembro, no espaço do Centro de Educação e Cultura Burle Marx, no Instituto Inhotim.
Entre linhas e agulhas, novas formas de enfrentar o luto
O projeto Semeando Esperança utiliza a metodologia A(bordar) o Ser, desenvolvida há 30 anos pelo Grupo Matizes Dumont. “Trabalhamos com capacitação de mulheres para o bordado em todo o Brasil, com projetos socioambientais e geração de emprego e renda, utilizando o bordado como ferramenta de transformação social, pertencimento de território, valorização da cultura e fortalecimento de laços afetivos”, conta Sávia Dumont, coordenadora do projeto.
Ela explica que, em 2019, a metodologia foi adaptada para o contexto de Brumadinho. “Nas oficinas, valorizamos as trocas e vivências entre as participantes que perderam entes queridos. Por terem passado por dificuldades parecidas, elas se fortalecem e juntas constroem um mesmo caminho. A dor nunca vai acabar, mas passa a ser observada de outra maneira”.
Em seu primeiro ano, o projeto contou com a participação de 44 mulheres. Com o início da pandemia, as aulas foram adaptadas para o formato virtual. Do total de participantes da primeira turma, 35 continuaram no projeto. Outras 12 chegaram em março deste ano, quando foi aberta a segunda turma. Em agosto, o Semeando Esperança teve seu público ampliado mais uma vez. O novo grupo foi aberto para qualquer morador de Brumadinho. Até o fim do ano, estão previstas mais duas turmas. Com isso, a expectativa é terminar 2021 apoiando 140 artistas bordadeiras.