Após 3 anos, Abraço a Serra da Moeda volta a ser realizado

Objetivo é chamar a atenção de autoridades políticas, população e esferas governamentais sobre a defesa dos recursos hídricos e nascentes da região

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Promovido pela ONG Abrace a Serra da Moeda, ato de protesto acontece nesta próxima sexta-feira, 21, feriado de Tiradentes, na rampa de voo livre do Topo do Mundo. Assim como nas edições anteriores, pontualmente ao meio dia, os participantes formam um cordão humano no cume da serra, simbolizando um abraço.

Organizado desde 2008, o intuito é chamar a atenção de autoridades políticas, população e esferas governamentais sobre a defesa dos recursos hídricos e nascentes da região, constantemente ameaçados por empreendimentos e mineradoras instaladas sobre ou próximas ao aquífero.

O Presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda, o ambientalista Ênio Araújo fala sobre o tema desta edição do evento que é: ‘Água em quantidade e qualidade para todos’. “A água é um recurso finito e essencial para a vida no Planeta e, para nós seres humanos, é ainda mais importante,” afirma.

Ainda de acordo com Araújo, um dos maiores mananciais de água doce de Minas Gerais, o Cauê, dá origem a inumeras nascentes da Serra da Moeda, além de ser responsável pelo abastecimento de milhares de famílias na costa oeste da cadeia montanhosa. “Por isso, patrimônios naturais como esse precisam da nossa constante vigilância”, destaca.

Empreendimentos ameaçam abastecimento

A Advogada ambientalista da ONG Abrace a Serra da Moeda, Beatriz Vignolo, afirma que, atualmente, as maiores lutas entidade e que, consequentemente, levam à necessidade de um evento conscientizador do porte do Abrace a Serra, são travadas, especificamente, contra dois empreendimentos: a fábrica de refrigerantes da Coca Cola FEMSA e a CSul Lagoa dos Ingleses.

A primeira, instalada em Itabirito, às margens da BR-040, em meados de 2015, vem reduzindo drasticamente a vazão de nascentes da região e comprometendo o manancial. Com capacidade para produzir 2,1 bilhões de litros por ano, (175 milhões litros/mês), a multinacional extrai mensalmente mais de 173.000m³ de água subterrânea da Serra da Moeda apenas para suprir a demanda de seus poços, situados a poucas centenas de metros de cursos d’água que atendem milhares de pessoas em Brumadinho. “Com isso, algumas comunidades locais, entre elas Campinho e Suzana, passaram a enfrentar uma situação de desabastecimento e escassez hídrica que se arrasta por oito anos”, denuncia Beatriz.

Já a CSul Lagoa dos Ingleses pretende tirar do papel um megaprojeto de expansão urbana para mais de 200 mil pessoas, em torno do Alphaville, na Grande BH. O faraônico empreendimento, que prevê até 2065 uma espécie de ‘cidade particular’ dentro de Nova Lima, terá demanda de mais de 2.300.000 m³ de água por mês a ser retirada do aquífero Cauê, contido no Sinclinal Moeda. Esse impacto, segundo os ambientalistas, pode colocar em risco o abastecimento para todos os municípios da Grande Belo Horizonte. “A região onde a CSul vai se instalar, próxima ao divisor de águas entre as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba tem um dos mais importantes mananciais de abastecimento da região metropolitana [de Belo Horizonte]. Mesmo sabendo disso, os responsáveis estão levando adiante um suntuoso projeto imobiliário, cujos estudos hidrológicos não são conclusivos acerca da viabilidade hídrica”, alerta Cleverson Vidigal, que também faz parte do grupo de ambientalistas da Abrace a Serra.

Mina da Serrinha

Outro embate antigo da ONG, mas que parece caminhar para uma trégua, é com os responsáveis pela Mina da Serrinha, localizada dentro do complexo natural da Serra da Moeda, cujas atividades de lavra estão suspensas há mais de 15 anos, porém com sucessivas licenças de operação. Em reunião com a mineradora Vale, que adquiriu os direitos minerários do local em dezembro de 2018, os ambientalistas foram informados que o empreendimento está com suas operações regularmente suspensas junto a Agência Nacional de Mineração (ANM) e estudos de sondagens vem sendo realizados para que seja possível conhecer melhor a estrutura.

Na conversa entre as partes, realizada em setembro do ano passado, a mineradora informou ainda que a limpeza da mina foi efetuada e neste ano estão previstas a retirada das pilhas de estéril nela existentes. É previsto, também, nos próximos anos, a demolição da infraestrutura industrial remanescente, descaracterização da barragem e reabilitação da área através da execução de um Plano de Recuperação de Áreas Degradas (PRAD).

Segundo Ronald Fleischer, geólogo da ONG Abrace a Serra da Moeda, o lugar onde a Serrinha está possui relevância hídrica, espeleológica e ambiental reconhecida por diversos instrumentos de proteção, entre eles o Monumento Natural Municipal da Mãe D’água. “Essa mina provocaria o rebaixamento do lençol freático e consequentemente o esgotamento da nascente Mãe D’água, que fica ao lado do empreendimento. Isso iria afetar diretamente 10 mil famílias das comunidades Córrego Ferreira, Palhano, Recanto da Serra, Águas Claras, Jardins e Retiro do Chalé”, destaca.
Estudos técnicos demonstram ainda que a volta da mineração nesta região traria a degradação da paisagem, instabilidade da encosta da Serra, poluição sonora, crescimento urbano desordenado, emissão de poeira e colocaria em risco a sobrevivência de espécies de flora endêmicas e de fauna, atualmente ameaçadas de extinção.

Abrace a Serra da Moeda
Quando: 21 de abril, sexta-feira, a partir das 10h
O abraço simbólico acontece, pontualmente, ao meio dia
Onde: Rampa de voo livre no Topo do Mundo, em Brumadinho

Este ano o evento contará com a participação especial da cantora Sol Bueno, de Moeda; do Grupo Sorriso Negro; da Comunidade Quilombola de Sapé; do maestro Júlio Santos e outras atrações regionais.

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